quarta-feira, 29 de março de 2017

Breve Histórico da Família Colling

Olá, pessoal! A seguir, transcreverei o trecho do livro 'A Família Colling no Brasil', onde o Pe. Oscar Colling relatou um pouco da história do casal que deu início à família no Brasil, Gregório Colling e Christina Bremm. Talvez muitos familiares não a conheçam, pois o livro já é relativamente antigo, datado de 1990. De qualquer forma, faço essa transcrição para que esse registro também exista na internet, e não apenas em via impressa. Aproveitem!

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- BREVE HISTÓRICO DA FAMÍLIA COLLING -

Os relatos que apresento a seguir são fruto de pesquisas e entrevistas feitas, especialmente com netos de Gregório e Christina, alguns dos quais ainda conheceram o casal patriarca.

Christina e Gregório

- GREGÓRIO E CHRISTINA -

Gregório era homem de estatura média, magro, cabelos grisalhos, brancos e meio ralos. Informação não confirmada dizia ter mão defeituosa. Era homem de grande força muscular. Certo dia, ao ser removida uma viga-mestra, na construção de uma casa, pois ele era pedreiro e construtor, dois de seus filhos dos quais um era o José, não puderam carregar a viga. Então Gregório, dispensando a ajuda dos mesmos, carregou sozinho a peça. Era também agricultor.

Veio ao Brasil em 1853, com a idade de 20 anos, e aqui casou com Christina Bremm, no dia 4 de fevereiro de 1863, na igreja de Bom Princípio, que pertencia à paróquia de Triunfo. (...) Ainda continua envolto em incerteza o local onde Gregório foi morar logo após o casamento. Sabe-se que foi em São Salvador, que hoje se chama Tupandi. Mas onde? Parece que foi entre São Benedito e Arroio das Pedras, perto de Arroio Salvador. Lá nasceram todos os filhos, conforme consta das participações de falecimento dos mesmos.

"Gregório era um pai de família cem por cento!", é o depoimento de um neto.

Certo dia, um vizinho resolve avançar nas terras de Gregório, mudando ou avançando os marcos de divisa, o que muito o irritou, e fez mover um processo judicial contra o infrator. Cansado da encrenca, cuja solução nunca vinha, e tendo-lhe sido negada pela mulher a ajuda para custear as despesas do processo (parece que ela administrava o caixa do casal), resolveu vender a propriedade, adquirindo outra em Pareci Novo. Desistindo do litígio, também perdeu o direito na causa. Adquirindo o novo imóvel, com suas benfeitorias, preocupou-se em reformá-las antes de ir residir lá com sua família. Sendo ele mesmo pedreiro e construtor, foi durante várias semanas trabalhar nesta reforma, indo a pé de São Salvador a Pareci Novo, o que dá aproximadamente uns 20 km. Alguns amigos seus, tentando ajudá-lo, emprestaram-lhe um cavalo, para facilitar-lhe a locomoção. Ele vinha segundas-feiras de manhã cedo a Pareci, voltando sábados para casa. Pouco ajudou emprestarem-lhe o animal, pois, não sabendo manejar as rédeas, não conseguia dominá-lo, e o equino andava meio solto. Assim, Gregório levava mais tempo, horas a mais, para chegar a seu destino.

Vieram, então, morar em Pareci Novo, lugar, aprazível no interior do município de Montenegro. Ainda hoje é um distrito deste município (nota do autor: Pareci Novo se tornou município em 1992, dois anos após a publicação do livro), distante uns 12 km da sede, à margem direita do rio Caí, e cerca de 6 km da cidade de São Sebastião do Caí. Pareci Novo tornou-se célebre pela presença dos padres jesuítas, que lá construíram o noviciado de sua província meridional, atendendo ao mesmo tempo a comunidade católica local, pertencente à paróquia de Harmonia. O povo frequentava uma capela, situada ao lado do colégio dos padres, hoje demolida. Era esta a igreja frequentava pro Gregório e seus familiares.

Este nome 'Pareci Novo' ficará sempre como uma lembrança, uma grata recordação em nossos corações, porque lá repousam os sagrados restos mortais dos queridos e saudosos antepassados Gregório e Christina, bem como de outros filhos e netos seus, aguardando o Dia do Senhor, o chamado para a última e definitiva morada, na pátria celeste.

Lá residiram também os filhos Francisco Xavier, Maria e Nicolau, Pedro e José. Francisco e Maria descansam também neste cemitério. Nicolau residiu na casa paterna, sendo o arrimo de seus pais, até falecerem, indo morar a partir de 1925 na 'Estação Barro', hoje denominada Gaurama. A casa de Gregório ainda está de pé, bem conservada, e habitada pela família que a adquiriu de Nicolau. Conservam-se igualmente dois dos móveis da família de Gregório, a saber: a mesa da sala de jantar, e a cama do casal, verdadeiras relíquias.

Dos netos de Gregório, veio estabelecer-se em inícios do século o filho mais velho do João, chamado Júlio José, igualmente a viúva de Miguel Colling, sra. Maria Luísa Heck Colling, além de outros.

O distrito de Pareci Novo é conhecido pela excelente qualidade de suas frutas cítricas, produto principal de toda a região do vale do rio Caí, que chega a exportar para outros estados, até para o exterior.

A igreja matriz de Pareci Novo, (...), é obra espaçosa, suntuosa, verdadeiro orgulho da comunidade católica, erguida em tempo recorde.

Igreja Matriz São José, em Pareci Novo - RS, cuja construção se iniciou em 1934.

Os últimos anos de Gregório foram amargurados e sofridos por causa do litígio com o vizinho. Assim, ele se tornou uma pessoa triste, não gostava de crianças, não sabia atraí-las, pelo contrário, ele as repelia: "Geht mr. da weg!" (Saiam daqui!).

Entretanto, esta amargura certamente o aproximou mais de Deus. A lembrança que os netos conservam do avô é a do homem que rezava muito. Quando ele vinha a Harmonia, visitar o filho João, recordam os netos que o avô caminhava ao longo do muro da igreja, que ficava ao lado, rezando o terço. Era seu costume, andar sempre com o rosário na mão. Este depoimento do homem piedoso que rezava muito a Nossa Senhora, confere com o que diz a participação de seu falecimento.

Participação do Falecimento de Gregório Colling

A vovó Christina era de estatura alta, mais alta do que seu esposo, magra, cabelos castanhos. Era pessoa muito querida, afável, alegre, carinhosa; gostava muito de crianças, especialmente dos netos, a quem sabia agradar e atrair. "Nós gostávamos muito da vovó; quando ela vinha nos visitar, sempre tinha alguma coisa para as crianças: ou frutas ou balas!". Christina visitava seus filhos e netos com mais frequência do que Gregório. Quando vinham, era sempre a cavalo. Certamente a estas alturas já terá aprendido a manusear as rédeas! Nenhum dos dois aprendeu a falar o português, entretanto, sabiam escrever e ler corretamente, e possuíam um certo forte grau de cultura. Naquele tempo, o único idioma em uso na colônia alemã era naturalmente o alemão, e isto em parte pelo descaso do governo. Na escola, ensinava-se o alemão, o próprio professor era de nacionalidade alemã! O sermão do padre na igreja era em alemão. Apenas durantes as guerras mundias de 1914 e 1939, foi proibida a língua alemã nas igrejas e nas escolas.

Mas voltemos às visitas da vovó Christina: eram verdadeira festa para os netinhos que chegavam a quase arrancar-lhe a roupa do corpo, tal era a vibração por sua chegada e presença. Ela sabia realmente chegar ao coração dos netos, vibrar e brincar com eles. Outra virtude sua era a de participar dos trabalhos da casa onde chegava. Um neto Schallenberger conta: "Nós tínhamos um alambique, e quando a vovó vinha nos visitar, também nos acompanhava no trabalho, no corte da cana, que é um trabalho muito ingrato.". Outra neta relata: "Quando ela vinha nos visitar, sempre ajudava nos trabalhos da família. Tinha alegria especial em cuidar das galinhas. Lembro que certa vez ela usou uma expressão do dialeto alemão que para nós tinha outro sentido. Era a palavra 'hortig' ou 'hotig'. Ela disse: 'Mariche, geh mal hortig den Teller holen, ich hab'n vergess!' (Vai buscar já o prato, que eu esqueci). Mas, para nós, a palavra significava 'daqui a pouco' ou 'em breve', e não como ela entendia 'Já!'.". Outro neto relata o seguinte: "Nossa maior alegria aos domingos era visitar a vovó. Ela morava com o tio Nicolau. Íamos pelas três horas da tarde. Então nos ofereciam um 'baita café' (palavras textuais), e depois íamos brincar no potreiro com os primos, filhos do tio Nicolau.".

A vovó Christina ainda chegou a conhecer o neto Claúdio, futuro Arcebispo de Porto Alegre, pois ao falecer, o pequeno tinha onze meses e meio de idade. Conta a neta Maria Colling que a vovó, ao visitar a família do João, após o nascimento do Cláudio, ela o enfaixava todo, enrolando nos panos também as mãozinhas, de modo que ele não podia tirá-las, ficando imobilizado, parecendo uma múmia, um toco de vela. Era assim o costume da Alemanha, sua pátria, por causa do frio intenso. "Mas eu lhe soltava as mãozinhas, ao que vovó vinha reclamar: 'ach, wer hat mr. lau schon gmacht?' (Quem é que me fez isto?) 'Ja, das war das Lausding gwesen!' (Sim, foi esta arteira!).".

Segundo alguns depoimentos, e pela aparência da foto, Christina sofria de bócio (papo). Era excelente cantora, assim como a maioria de seus filhos. Nas últimas semanas de sua vida esteve acamada devido ao seu mal de estômago, do que veio a falecer. Terá sido úlcera? Ou câncer? Nada se sabe ao certo. Os restos mortais do casal descansam no cemitério católico de Pareci Novo - RS.

Participação do Falecimento de Christina Bremm Colling

Nós os descendentes de Gregório e Christina, louvamos e bendizemos ao Senhor pelo dom maravilhoso que foram e ainda continuam sendo para todos nós, com seu exemplo magnífico de fé, honradez, amor à família.

'Façamos, pois, o elogio dos homens ilustres, nossos antepassados, através das gerações.'  (Eclo, 44,1)

(Colling, Oscar João. A Família Colling no Brasil, Viamão, 1990, p. 18-22)

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